quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

fragmentos de um amor sem discurso

Hoje nosso amor se quebra
na arritmia das palavras:
a interna e falsa promessa
que o verso desconversa
e cala nos desejos do corpo
A falta da rima
na sintaxe desordenada
a métrica irregular e perdida
que adormece entre os poemas
tão inacabados quanto este
O fim da estrofe que ajoelha
e implora mais uma linha
para não se sentir ímpar
noutro soneto que definha sem par
O título sem concordância
no topo, sem ponto inicial
O rascunho de um encontro
que só se sabe final.


Último post do ano!!! Um ano em que a poesia começou calada... Um ano que se eu pudesse esquecer... Ah..se eu pudesse....rsrsrs... MAS... ainda bem que há sempre uma conjunção pra salvar tudo!!..rsrs... Lembro agora de tantos versos clássicos de poetas eternos... não escreverei...rs... Deixo apenas o registro meio amargo... meio fraco... de um ano que mudou minha vida... embora ainda esteja recolhendo os cacos...rs...
Por isso:
Obrigada Moacir Caetano por ter se preocupado comigo...rs... e por todos os amigos - Múcio, Marla, Jardim, Nanna, Fejones, Ady, Zé... etc. - que pude "roubar" de você..rs...
Obrigada Dantas por sentir minha falta e me procurar...
Obrigada Loba por estar sempre de portas abertas...
Obrigada poetas de Sampa..rs... descobertos antes reais... entre abraços fortes... poemas molhados... e cerveja gelada... Czarina, Keila, Elaine, André, Renato, Otavio, Kathy
Obrigada a quem me visita em silêncio... rsrs...
E obrigada especialmente a "quem me quer(ia) desorganizada"...rs... Por todos os versos que partilhamos nos desencontros noturnos... e que renderam poemas querentes... na nossa incompletude mútua e cúmplice...
A todos: FELIZ 2007!!!!!

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

os sem-sentidos poéticos

Só você não vê
Que o meu verso
Fica cego – covarde
Toda vez que sua rima
Me invade de prazer
Só você não escuta
Que minha poesia chora
Quando lê nas suas linhas
O nome de outra musa
... outra mulher qualquer
Só você não sente
Que meu poema indecente
Se molha... se assanha
E me mostra sem-vergonha
Se sonha que sua escrita me quer

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

na moldura

Quero uma nova tela
De técnica inusitada
Uma natureza-viva
Torta e mal desenhada
Com olhos sobre ela... tingida!
Quero uma xilogravura carmim
Num auto-esboço transparente
Com contorno de nanquim
Feito em lençol ou espelho
Quero um vermelho diferente
Para enfeitar o meu poema:
Uma água-forte quase feliz
Estampada com cera de giz

domingo, 17 de dezembro de 2006

a noite... sendo*

É na boca faminta da madrugada
Que me sacio da sua ausência
Quando o gosto ambicioso do encontro
Despe o corpo das conveniências
E me veste com sua essência
É no obscuro noturno dos pêlos
Que seu hálito urgente me vasculha
Como agulha de bússola insegura
À procura de um norte entre os dedos
É na silenciosa passagem das horas
Que meus úmidos sussurros imploram
A imagem do beijo que me contorna
E devora meu desejo... que extrapola

* Lembrando do poeta Múcio Góes, do Diversos, que fez "a dor me sendo"

sábado, 16 de dezembro de 2006

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

in-certo rio

Sei de um rio que me rasga
Corta meus versos quando passa
E arrasta minhas rimas apressadas
Um rio que me transita pelas margens
No meio dos meus segredos femininos
E discorre ousado como o vento
É um rio lento... que me transborda clandestino
Com seu leito por vezes intermitente
Como é presente esse meu rio sem travessia
... Na correnteza da minha poesia!

domingo, 10 de dezembro de 2006

www.sem.vc

Das horas abreviadas e infinitas
Guardo apenas as janelas fechadas
Conversas intermináveis
Promessas [abstratas] minimizadas
Nas imagens interrompidas...
Pelo real barulho das chaves

sábado, 9 de dezembro de 2006

enchente

Se tua chuva morna
Me enche
E contorna
Meu centro
Enxugo a chuva dos olhos
... Chovo e me molho
Por dentro...

(re-post em "homenagem" à semana tempestiva que acabou)

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

[brincando de haicai]

baila a rima
e paira:
bailarina

(poema produzido como exercício na Oficina de criação poética, sob orientação de Frederico Barbosa, realizada na Biblioteca Alceu Amoroso Lima - Henrique Schaumann/Cardeal Arcoverde-SP - que por sinal foi maravilhosa... e continuará no ano que vem: vale a pena conhecer aquele lugar!!)

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

vertigem

(para quem me quer desorganizada)
Cada vez que você se arrisca,
Rabisca minha escrita e inspira
um gesto do verso que me conquista...

Cada vez que você se atreve,
Despe minha rima e prefere minha pele
que pede, feminina, que seu sexo me espere...

Cada vez que você ousa,
rouba da minha boca
o gosto que me escorre da outra...

Cada vez que você me provoca,
Roça meus pêlos com os dedos
Se apóia em minhas costas
e dobra meus joelhos...

Cada vez que você me escuta,
Aguça meu gozo e se lambuza
... Pulso no seu gozo
e começo tudo de novo

sábado, 2 de dezembro de 2006

leitura labial

Meu desejo circunflexo se pontua
quando sua oralidade me acentua
Na pronúncia rápida do sexo:
a sílaba tácita do verso
Na boca, o trava-língua, ainda átono
enrola o fonema mais aberto

...É assim quando você - sujeito grave -
me abre as páginas internas
e traduz com os lábios meus hiatos
: a fluidez da rima entre as pernas...
E eu (oblíqua crase - quase aguda)
conjugo outro orgasmo... que se articula
no predicado dessa leitura

terça-feira, 28 de novembro de 2006

storyboard

No lado de dentro
Teus dedos diretos
Em movimentos macios
Eretos como falo
Em contato com o rio
Fluente alvo que verte
E vadio se diverte
Quando escancaro
Na tua boca
(entre as coxas)
as pequenas fendas
Em rendas e labaredas
Para que me metas
Apenas o que eu mereça...

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

na intimidade

A indiscrição dos lábios
Na fêmea... umedecidos
Com a fome escarlate
Ardendo em sorrisos

As digitais
Nos genitais:
Geniais
...ais

domingo, 19 de novembro de 2006

querente

O calor da sua boca
Faz ronda no meu corpo
Me percorrendo do ponto à ponta
Seu hálito querente
Ascende em meu pescoço
Até alcançar o rosto
Como um sopro ardiloso
Ao longo dos pêlos em riste
Sinto então mais lasciva
A lânguida saliva... que você
Esfrega com a língua
Entorpecida, ainda ereta
Espalhando seu gosto distraído
Desde o ombro até o umbigo
Seus lábios lúbricos me escalam os seios...
Arrebatando meus excitados anseios
Seus dentes me tatuam, por fim:
Antes as costas... depois o ventre
E eu me abro: saio de mim
Para que outro beijo me entre

sábado, 18 de novembro de 2006

contratempo

Atraso os ponteiros do inverno
Em outras sazonais primaveras
(me prorrogo)
Antecipo o verão das horas...
(te coloco)
Nos diários outonais que transladam
Em órbitas de imutáveis rotas
Traço rastros insolares e infinitos
Como contos que se calam contidos
E disparam ao desordenado encontro
do final do teu ponto e minha libido

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

vernissage

Leia-me às cegas
Com olhos vendados
Leia-me sem pressa
Com seu lúdico tato
Leia-me: aquarela sem tinta
Deixe que eu sinta
Na tela de branca textura
A cor que seu pincel revela
Quando você escreve sua assinatura

incompletude

Quero-te hirto e imerso
Na incompletude do meu verso
Quero-te perto
Subjuntivamente por cima
Na retina interna da rima
Quero-te apenas
No abstrato cerne do poema
Quero-te agora:
E agora?